domingo, 14 de setembro de 2025

Sentir-se diferente e descobrir a razão

 


Ao longo da vida, muitas vezes senti que não encaixava no mundo da mesma forma que os outros. Pequenos gestos, conversas e situações sociais que pareciam simples para todos, para mim eram complexos, confusos ou mesmo desgastantes. Durante anos, interpretei isso como uma sensação de inadequação ou timidez.


Escrever o meu livro levou-me a uma introspecção profunda. Através dessa viagem interior, percebi algo que muda a forma como me vejo: talvez eu esteja no espectro do autismo. Nunca tive essa explicação antes, mas agora faz sentido de tantas experiências e sentimentos que carreguei sem compreender totalmente.


Para compreender melhor esta descoberta e obter um diagnóstico correto, decidi procurar ajuda médica especializada. Neste momento, estou à espera da minha consulta com o psiquiatra, porque quero ter certeza e orientação adequada, algo que considero essencial para qualquer jornada de autoconhecimento.


Ao refletir sobre as minhas experiências, percebi também a relação entre a misofonia — aquela sensibilidade extrema a certos sons — e o autismo. Muitas pessoas no espectro experienciam sensibilidades sensoriais mais intensas. No meu caso, além da misofonia, tenho sensibilidade a luzes, a cheiros e a texturas. Percebi também que me sinto cansada após convívios e que, por vezes, explodo em emoções sem razão aparente. Compreender estas experiências ajuda-me a perceber melhor como certas situações do dia a dia podem ser emocionalmente desgastantes.


Descobrir isto não é sobre colocar rótulos, mas sobre encontrar sentido e aceitar-me. É perceber que ser diferente não é errado — é apenas uma maneira única de existir, de sentir e de experienciar o mundo.


Partilho isto no blogue porque acredito que muitas pessoas sentem algo semelhante: uma diferença que não conseguem explicar, uma sensação de não encaixar. Saber que há uma razão para isso pode ser libertador. E, acima de tudo, ajuda-nos a valorizar a nossa singularidade, sem nos culparmos por sermos quem somos.


A introspecção, a aceitação e a procura de ajuda profissional transformaram a minha percepção da vida. E quero deixar aqui um lembrete para todos: a diferença não nos separa, ela é o que nos torna únicos.