Há mais de três anos que vivo com dores constantes no pulso e na mão direita. Tudo começou depois de um acidente de trabalho, em 2022, quando estava a carregar um camião em Itália. Desde então, a minha vida mudou drasticamente. A dor não é apenas física — é emocional, é psicológica, é incapacitante. A cada dia que passa, sinto o peso de algo que me foi tirado: a liberdade de usar a minha mão como antes, a segurança no trabalho, a tranquilidade de simplesmente viver sem dor.
As dores que sinto são agudas, por vezes insuportáveis. Há dias em que mal consigo escrever ou realizar gestos simples do dia a dia. Um exemplo disso: deixei de conseguir destravar o travão de mão do carro com o polegar — como sempre fiz — e tive de me adaptar, usando o indicador. São pequenas coisas, quase imperceptíveis para os outros, mas que para mim representam um esforço constante e uma adaptação forçada à dor.
E para quem, como eu, trabalha com as mãos — e depende delas para conduzir, carregar, manobrar — a dor transforma-se numa prisão. Já não é só uma questão de desconforto: é uma limitação real, constante, exaustiva.
Nestes três anos e meio, ouvi muitas vezes a frase "tem de ter paciência". Mas a paciência esgota-se quando a dor não dá tréguas. Quando os exames se acumulam, as respostas tardam e a sensação de injustiça cresce, especialmente quando o seguro insiste em negar o nexo de causalidade com o acidente. É frustrante ver o nosso sofrimento questionado, como se não bastasse o que já estamos a viver.
Agora, com a cirurgia marcada, sinto-me num turbilhão de emoções. Por um lado, há esperança — finalmente, uma possibilidade de alívio, de recuperação. Por outro, há medo e ansiedade. Não sei como será o pós-operatório, quanto tempo levará até voltar a ter alguma normalidade, se a cirurgia vai mesmo resolver tudo. Vivo entre a expectativa e o receio, entre o cansaço e a vontade de voltar a ser eu, inteira, funcional, sem dor.
Mas há algo que me dá força: a esperança de poder, depois da cirurgia e da recuperação, voltar à minha profissão. Voltar a conduzir, a sentir a estrada, a retomar aquilo que me define e que tanto gosto de fazer. Porque não se trata apenas de voltar a trabalhar — trata-se de recuperar uma parte de mim.
Este caminho tem sido duro, solitário em muitos momentos, mas continuo a agarrar-me à esperança de dias melhores. Só quem vive com dor crónica sabe o que é este desgaste. Mas também sei que sou resistente. E apesar de tudo, continuo à espera daquilo que mais desejo: uma vida com menos dor, mais liberdade… e o regresso à estrada.
Sem comentários:
Enviar um comentário