sábado, 29 de novembro de 2025

Um Desabafo do Coração

Há palavras que ferem mais do que qualquer dor física.

Nos últimos dias chegaram-me comentários  que sou “malandra”, que “vivo às custas dos outros”.

Quem diz isto não imagina nem um décimo do que é a minha vida.


Trabalho como motorista de pesados de mercadorias — um dos trabalhos mais duros que existem.

Esta semana foi mais uma daquelas:


Saí de casa no domingo depois do almoço,


Só voltei hoje, novamente depois do almoço,


A maioria dos dias acordei às 4h para começar às 5h,


Passei horas e horas a correr contra o relógio, contra o trânsito com entregas marcadas ao minuto.


Enquanto alguns ainda dormiam, eu já estava a enfrentar chuva, frio, trânsito, estradas estreitas, clientes exigentes… e o cansaço acumulado de quem raramente pára.


E além de tudo isto, carrego ainda um corpo que não me facilita a vida.

Para além da obesidade, tenho artrose nível 4 no joelho direito — o grau mais avançado.

Tenho um problema lombar inoperável que, quando as dores apertam, me deixa bloqueada da cintura para baixo, fico a rastejar.

Quem trabalha comigo e já viu, sabe que é verdade. 


Mas mesmo assim eu levanto-me.

Mesmo assim eu conduzo.

Mesmo assim eu trabalho.

Mesmo assim eu não desisto.


Porque vivo do meu esforço.

Porque nada me foi dado.

Porque aprendi a lutar — mesmo quando o meu próprio corpo luta contra mim.


Por isso dói — dói mesmo — ouvir que sou “malandra”.

Não pelo insulto em si, mas pela injustiça.

Pela falta de empatia.

Por virem de onde menos esperava.


Este texto não é para atacar ninguém.

É apenas para deixar a minha verdade clara:

Eu trabalho. Eu esforço-me. Eu sacrifico-me. Eu aguento dores que muitos não aguentariam um minuto.


E faço tudo isto de cabeça erguida.

Com orgulho no que sou e no que conquisto.


Que este desabafo sirva apenas para lembrar que, antes de falar, é bom saber.

E antes de julgar, é bom sentir.