Há palavras que ferem mais do que qualquer dor física.
Nos últimos dias chegaram-me comentários que sou “malandra”, que “vivo às custas dos outros”.
Quem diz isto não imagina nem um décimo do que é a minha vida.
Trabalho como motorista de pesados de mercadorias — um dos trabalhos mais duros que existem.
Esta semana foi mais uma daquelas:
Saí de casa no domingo depois do almoço,
Só voltei hoje, novamente depois do almoço,
A maioria dos dias acordei às 4h para começar às 5h,
Passei horas e horas a correr contra o relógio, contra o trânsito com entregas marcadas ao minuto.
Enquanto alguns ainda dormiam, eu já estava a enfrentar chuva, frio, trânsito, estradas estreitas, clientes exigentes… e o cansaço acumulado de quem raramente pára.
E além de tudo isto, carrego ainda um corpo que não me facilita a vida.
Para além da obesidade, tenho artrose nível 4 no joelho direito — o grau mais avançado.
Tenho um problema lombar inoperável que, quando as dores apertam, me deixa bloqueada da cintura para baixo, fico a rastejar.
Quem trabalha comigo e já viu, sabe que é verdade.
Mas mesmo assim eu levanto-me.
Mesmo assim eu conduzo.
Mesmo assim eu trabalho.
Mesmo assim eu não desisto.
Porque vivo do meu esforço.
Porque nada me foi dado.
Porque aprendi a lutar — mesmo quando o meu próprio corpo luta contra mim.
Por isso dói — dói mesmo — ouvir que sou “malandra”.
Não pelo insulto em si, mas pela injustiça.
Pela falta de empatia.
Por virem de onde menos esperava.
Este texto não é para atacar ninguém.
É apenas para deixar a minha verdade clara:
Eu trabalho. Eu esforço-me. Eu sacrifico-me. Eu aguento dores que muitos não aguentariam um minuto.
E faço tudo isto de cabeça erguida.
Com orgulho no que sou e no que conquisto.
Que este desabafo sirva apenas para lembrar que, antes de falar, é bom saber.
E antes de julgar, é bom sentir.