segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Aquela Senhora

Há uma memória que guardo comigo, mas que até hoje não sei se foi um sonho ou se aconteceu mesmo. Na altura, a minha mãe ainda era viva. Conheceu uma senhora — e o que sempre me ficou na cabeça foi o quanto essa senhora se parecia comigo… com o que eu sou hoje. Na altura não liguei muito, mas hoje penso nisso vezes sem conta.


Essa senhora tornou-se amiga da minha mãe. Lembro-me de a verem juntas, a conversar como se já se conhecessem há muito. E, de forma quase natural, ela começou também a falar comigo. Não me lembro de tudo o que disse, mas sei que me deu conselhos. Coisas simples, mas certeiras. Como se soubesse de antemão o que eu ia viver. E o mais estranho — ou talvez o mais bonito — é que esses conselhos vieram a fazer sentido com o tempo. Ela falou-me de situações que eu viria a enfrentar, e foi como se me tivesse deixado uma bússola para quando chegasse a hora.


O que me intriga até hoje é: quem era, afinal, aquela senhora? Era apenas uma amiga da minha mãe? Uma desconhecida com um dom? Ou — e esta ideia nunca me deixou completamente — era uma versão de mim mesma, vinda de um tempo mais à frente, a tentar ajudar-me antes de tudo acontecer?


Pode parecer fantasia, mas eu sei o que senti. Sei que me marcou. E sei que, desde então, passei a olhar para certas coisas com mais atenção. Porque há momentos na vida que nos deixam uma marca tão profunda que nem importa se foram reais ou sonhados — eles transformam-nos na mesma.


E esta memória, seja ela o que for, faz parte de mim.

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