segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Aquela Senhora

Há uma memória que guardo comigo, mas que até hoje não sei se foi um sonho ou se aconteceu mesmo. Na altura, a minha mãe ainda era viva. Conheceu uma senhora — e o que sempre me ficou na cabeça foi o quanto essa senhora se parecia comigo… com o que eu sou hoje. Na altura não liguei muito, mas hoje penso nisso vezes sem conta.


Essa senhora tornou-se amiga da minha mãe. Lembro-me de a verem juntas, a conversar como se já se conhecessem há muito. E, de forma quase natural, ela começou também a falar comigo. Não me lembro de tudo o que disse, mas sei que me deu conselhos. Coisas simples, mas certeiras. Como se soubesse de antemão o que eu ia viver. E o mais estranho — ou talvez o mais bonito — é que esses conselhos vieram a fazer sentido com o tempo. Ela falou-me de situações que eu viria a enfrentar, e foi como se me tivesse deixado uma bússola para quando chegasse a hora.


O que me intriga até hoje é: quem era, afinal, aquela senhora? Era apenas uma amiga da minha mãe? Uma desconhecida com um dom? Ou — e esta ideia nunca me deixou completamente — era uma versão de mim mesma, vinda de um tempo mais à frente, a tentar ajudar-me antes de tudo acontecer?


Pode parecer fantasia, mas eu sei o que senti. Sei que me marcou. E sei que, desde então, passei a olhar para certas coisas com mais atenção. Porque há momentos na vida que nos deixam uma marca tão profunda que nem importa se foram reais ou sonhados — eles transformam-nos na mesma.


E esta memória, seja ela o que for, faz parte de mim.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Julho e os seus encontros marcados, parte 2

 

A 23 de julho,lá foi a tão esperada cirurgia ao pulso — esse companheiro de dores e silêncios — a passar pelo bisturi da esperança.

No dia seguinte à cirurgia, percebi algo que me fez acreditar ainda mais: o bloqueio e a dor constante no polegar direito — aquela dor teimosa, que se fazia sentir todos os dias, mesmo que de forma tolerável — tinham desaparecido.
Era como se o meu corpo, finalmente, tivesse respirado de alívio.

Ao sexto dia, os pontos estavam fechadinhos, com bom aspeto. Mas os cuidados continuam. A equipa médica foi clara: os pontos só devem ser retirados ao fim de quinze dias, para evitar o risco de reabertura.
Aos poucos vou recuperando a força, mas tento evitar ao máximo forçar — não por fraqueza, mas por respeito ao tempo que o corpo precisa.
Há um certo receio: o medo de que um movimento mais brusco possa abrir caminho a um retrocesso. E não quero que a recuperação seja mais lenta do que o previsto.

Ainda há movimentos que esperam pelo seu tempo. Há dias mais fáceis, outros em que a paciência tem de vir ao volante.
Mas há uma sensação clara de libertação — como se, por dentro, algo tivesse voltado ao lugar certo.
E cresce, dia após dia, a esperança de voltar ao ativo, à minha liberdade, à minha paixão pela condução de veículos pesados de mercadorias — e de voltar a correr as estradas da Europa, com o céu por teto e a música a embalar cada quilómetro.

Voltar a cantar enquanto conduzo é uma sensação tão boa…
Quase como se tivesse seguido a carreira de cantora, como gostava de ter seguido em criança.
Mas talvez, de alguma forma, tenha seguido sim — porque cada canção entoada ao volante é também palco, liberdade e sonho.

É, ao mesmo tempo, algo profundo, íntimo e cheio de verdade.
Esta ligação entre conduzir e cantar diz muito de mim: da liberdade, da alegria, dos sonhos que ainda vivem dentro de mim, mesmo que tenham tomado outros rumos.

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Três anos e meio de dor: um desabafo

 Há mais de três anos que vivo com dores constantes no pulso e na mão direita. Tudo começou depois de um acidente de trabalho, em 2022, quando estava a carregar um camião em Itália. Desde então, a minha vida mudou drasticamente. A dor não é apenas física — é emocional, é psicológica, é incapacitante. A cada dia que passa, sinto o peso de algo que me foi tirado: a liberdade de usar a minha mão como antes, a segurança no trabalho, a tranquilidade de simplesmente viver sem dor.


As dores que sinto são agudas, por vezes insuportáveis. Há dias em que mal consigo escrever ou realizar gestos simples do dia a dia. Um exemplo disso: deixei de conseguir destravar o travão de mão do carro com o polegar — como sempre fiz — e tive de me adaptar, usando o indicador. São pequenas coisas, quase imperceptíveis para os outros, mas que para mim representam um esforço constante e uma adaptação forçada à dor.


E para quem, como eu, trabalha com as mãos — e depende delas para conduzir, carregar, manobrar — a dor transforma-se numa prisão. Já não é só uma questão de desconforto: é uma limitação real, constante, exaustiva.


Nestes três anos e meio, ouvi muitas vezes a frase "tem de ter paciência". Mas a paciência esgota-se quando a dor não dá tréguas. Quando os exames se acumulam, as respostas tardam e a sensação de injustiça cresce, especialmente quando o seguro insiste em negar o nexo de causalidade com o acidente. É frustrante ver o nosso sofrimento questionado, como se não bastasse o que já estamos a viver.


Agora, com a cirurgia marcada, sinto-me num turbilhão de emoções. Por um lado, há esperança — finalmente, uma possibilidade de alívio, de recuperação. Por outro, há medo e ansiedade. Não sei como será o pós-operatório, quanto tempo levará até voltar a ter alguma normalidade, se a cirurgia vai mesmo resolver tudo. Vivo entre a expectativa e o receio, entre o cansaço e a vontade de voltar a ser eu, inteira, funcional, sem dor.


Mas há algo que me dá força: a esperança de poder, depois da cirurgia e da recuperação, voltar à minha profissão. Voltar a conduzir, a sentir a estrada, a retomar aquilo que me define e que tanto gosto de fazer. Porque não se trata apenas de voltar a trabalhar — trata-se de recuperar uma parte de mim.


Este caminho tem sido duro, solitário em muitos momentos, mas continuo a agarrar-me à esperança de dias melhores. Só quem vive com dor crónica sabe o que é este desgaste. Mas também sei que sou resistente. E apesar de tudo, continuo à espera daquilo que mais desejo: uma vida com menos dor, mais liberdade… e o regresso à estrada.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

🚛 Se um dia eu morrer ao volante de um camião.

Que ninguém diga que foi em vão.

Sou motorista de pesados de mercadorias internacional, com orgulho.

A estrada é o meu local de trabalho, mas também é uma parte de mim.

É onde passo dias, semanas… onde vivo histórias, onde ouço o mundo a passar pelas janelas.


Conduzir não é só profissão — é paixão.

É ver o nascer do sol em países diferentes, sentir o vento nas autoestradas, rir sozinha com as memórias, chorar baixinho com as saudades.

É carregar o peso do mundo… e ainda assim seguir em frente.

Se algum dia o meu destino se cruzar com o fim enquanto conduzo, saibam que fui feliz.

Fiz o que amava.

Servi com dignidade.

E deixei a minha marca nas estradas da Europa.

A todos os que partilham esta vida de volante e distância, que cada quilómetro seja seguro e com destino.

E que nunca se esqueçam: somos mais do que motoristas — somos os que fazem o mundo andar.


Julho e os seus encontros marcados

 

Há meses que passam despercebidos.
Mas julho, esse não — faz questão de se fazer notar.
É como se me tivesse escolhido, ano após ano, para me lembrar da força que nem sempre sei que tenho.

A 5 de julho, foi a vez da vesícula.
A 28 de julho, um tratamento delicado ao útero.
E agora, será o pulso — esse companheiro de dores e silêncios — a passar pelo bisturi da esperança.

Julho tornou-se o mês das cirurgias, das salas frias, dos cheiros estéreis e dos olhares calmos dos profissionais de saúde.
Mas também é o mês dos recomeços.
O corpo dói, sim. Mas ao mesmo tempo, liberta-se. Corrige o que precisa, arruma o que incomoda.

Não sei se é sina, destino ou só uma coincidência teimosa…
Mas sei que em julho tenho aprendido a cuidar mais de mim.
E talvez isso seja, afinal, a maior cirurgia de todas.

Espero com isto voltar à estrada, ao volante da grande roda,
percorrer as estradas da Europa com sorriso no rosto e a música na minha boca.

Porque é na liberdade do caminho que o meu coração acelera,
E eu sei que ainda tenho muito para conduzir, viver e cantar.

 


 

 

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Café avec Amour

 

 No ano passado (2024) recebi a proposta do escritor Bruno Santos para traduzir o livro "Café com amor" para francês, projeto que agarrei com unhas e dentes.
É com orgulho que partilho convosco a capa do livro e vejo o meu nome numa das suas páginas. 😃




 
Deixo também o link de várias plataformas online onde está disponível para compra, quer em português, quer em francês.
 
 
 
 
 
É uma história, em que o narrador é ao mesmo tempo a personagem principal, que nos faz pensar se o amor à primeira vista, é apenas cliché, um mito, ou se de facto existe.  
 
Resumo:
 
Duarte é um jovem adulto que não consegue encontrar o amor, apesar de não ser feio. É então que fica a saber, que o seu melhor amigo João abriu um café, com uma particularidade, ele ajuda pessoas solteiras a encontrar a sua cara-metade, ou apenas uma amizade. Em troca de beberem chávenas de café, conhecem novas pessoas, e quem sabe se o cupido lhes baterá à porta. Sem nada a perder, ele decide tentar a sua sorte. Este livro, mostra que não vale a pena conhecer outras mulheres para esquecer a tal. Quando o coração bate forte...  
 

sábado, 31 de maio de 2025

Á minha querida filha!

 Querida Ana Carolina,


Escrevo-te com o coração cheio de amor e saudade.

Nunca cheguei a embalar-te nos braços, mas levo-te comigo todos os dias. O teu coração bateu dentro do meu durante vinte semanas — duas vidas a viver juntas, ligadas por um amor que nasceu no instante em que soube que existias.

Mesmo que o mundo nunca te tenha visto crescer, tu exististe. Foste real. E continuas a viver em mim, em cada pensamento, em cada silêncio, em cada sonho.

No dia 14 de fevereiro de 2019, o tempo parou. E contigo, levou-se um pedaço de mim.

Nesse dia, perdi-te. Mas nunca deixei de te amar.

Agora que se aproxima o fim de junho, o mês em que esperava conhecer-te, o coração aperta mais um bocadinho.

Este seria o teu mês. A tua chegada. O teu primeiro choro. O primeiro olhar.

Tinha tantos planos, tantos sonhos, tantos abraços guardados só para ti. Em vez disso, ficou um vazio imenso — mas também um amor que nunca desapareceu.


Imagino-te tantas vezes… com olhos vivos e riso fácil. Imagino-te a correr, a chamar por mim, a encher o mundo de cor.

Nunca ouvi o teu riso, mas ouço-o na minha imaginação.

Nunca vi o teu rosto, mas reconheço-te na luz de cada manhã.

Às vezes olho para o céu e procuro-te entre as estrelas. Gosto de pensar que és a que brilha mais, a que pisca só para mim.

E nesses momentos, falo contigo em silêncio.

Digo-te que te amo. Que nunca te esqueço. Que continuas a ser minha filha, mesmo sem teres crescido neste mundo.

Perdi-te antes de te conhecer, mas amei-te desde o primeiro instante.

E esse amor, minha filha, é eterno.


Com todo o amor que tenho,

Da tua mãe 💖

quarta-feira, 21 de maio de 2025

O Meu Processo de Emagrecimento: Uma Caminhada de Coragem, Dor e Esperança

Em criança, era uma criança normal. Não era obesa, nem me sentia diferente dos outros. No entanto, tudo mudou na minha adolescência. Tinha apenas 13 anos quando a minha mãe faleceu. Esse momento marcou-me profundamente e coincidiu com o início da puberdade. O meu corpo começou a mudar, mas não de forma natural — enfrentei um atraso menstrual devido ao síndrome do ovário policístico e vivi um turbilhão de emoções e traumas psicológicos difíceis de lidar.


Comecei a engordar de forma rápida e descontrolada. Ao longo dos anos, tentei várias vezes emagrecer, mas nunca consegui manter o peso desejado. O ciclo era sempre o mesmo: perdia um pouco, ganhava tudo de volta — e às vezes ainda mais.


Em setembro de 2009, após a separação com o meu primeiro companheiro, cheguei a pesar mais de 130 quilos. Lembro-me que nesse primeiro mês sozinha perdi algum peso e isso deu-me ânimo para continuar. Decidi focar-me e cuidar de mim.


Nos primeiros tempos tomei produtos da Herbalife — admito, foi uma escolha consciente para ajudar a desinflamar o fígado e reeducar o meu corpo a comer de forma saudável. Com essa ajuda inicial, e com muita dedicação, consegui descer até aos 86 quilos.


Mas o verdadeiro trabalho veio depois: comecei a cuidar realmente da alimentação, fazia exercício físico com regularidade — jogging, sets de flexões e abdominais, e quando chovia, bicicleta estática em casa. Em setembro de 2012 já estava com 68 quilos e, por mim própria, ainda consegui chegar aos 65.


Em agosto de 2013, estava nesse peso quando sofri um grave acidente de viação com o meu atual marido. Nessa altura, trabalhava em dois sítios e fazia cerca de 20 quilómetros de bicicleta por dia. Era extremamente ativa e sentia-me bem com o meu corpo e estilo de vida.


O acidente mudou tudo. Fiquei lesionada na coluna e no joelho direito. Passei de uma pessoa ativa para uma vida sedentária. E, admito, deixei de ter cuidado com a alimentação. Cometi muitos erros. Voltei a engordar tudo aquilo que tinha perdido — e talvez mais.


Cansada deste corpo, frustrada por não conseguir, sozinha, voltar ao que já fui, tomei uma decisão importante: pedi ajuda médica. Sim, estou atualmente no processo para a cirurgia bariátrica. Não é uma decisão fácil, mas é um ato de amor-próprio e coragem.


Já comecei a mudar a alimentação e a caminhar — ainda não todos os dias, mas com força de vontade sei que irei conseguir.


A partir de agora, vou usar este espaço para partilhar convosco todo este processo, com transparência, verdade e esperança.


Se tu que me lês estás a passar por algo semelhante, se sentes que precisas de ajuda mas não tens coragem de a pedir, fala comigo. Estou aqui para apoiar, como tantas vezes eu precisei de apoio. Talvez juntos possamos tornar o caminho um pouco mais leve.


Fica por aqui, acompanha esta jornada. E, acima de tudo, nunca desistas de ti.